
Ciência :: O que conta para ser feliz Pesquisas apontam a influência dos fatores sociais, culturais e psicológicos
Como definir um estado de espírito efêmero, cuja existência é tão breve, que é descrito pelo poeta como "a pluma que o vento vai levando pelo ar"? Há séculos, pensadores, religiosos e escritores inspiraram-se na busca dos segredos da felicidade para desenvolver seus trabalhos e não pareceram importar-se com a mistura de realidade e fantasia que ela pudesse representar. Mas o mesmo não se podia dizer da comunidade científica. Sempre céticos com o que não pode ser provado em laboratório, os cientistas praticamente ignoraram as pesquisas sobre a felicidade até a década de 60. Nessa época, começaram a surgir os primeiros estudos empíricos sobre o tema, impulsionados pela preocupação com o então recém-criado termo "qualidade de vida". Entenda-se como qualidade de vida o conjunto das condições necessárias para que a pessoa se sinta satisfeita com sua existência - o que inclui, além do conforto material, o físico e o mental. Na tentativa de fixá-la, diferentes especialistas da psiquiatria e da psicologia à sociologia, da neurologia à genética passaram a estudar a felicidade. O tema ganhou tal importância que hoje já existe um Arquivo Mundial da Felicidade, uma espécie de biblioteca online com mais de 2 mil estudos produzidos nas últimas décadas. O organizador é o sociólogo holandês Ruut Veenhoven, professor da Universidade Erasmo de Roterdã, autor de vários trabalhos incluídos no arquivo. Em um dos mais curiosos, ele classificou 48 países de acordo com o grau de felicidade de seus habitantes com base em aspectos socioeconômicos e questionários individuais.
Só dinheiro não basta
Nesse ranking, o primeiro colocado foi a Islândia. Seguindo uma complexa fórmula matemática, cada pessoa daquela ilha distante e um tanto fria do Atlântico Norte espera ter 62 anos de felicidade. Os mais pessimistas com a vida são os búlgaros, com apenas 31 anos de vida feliz. O Brasil ficou em 36º, acima da Rússia, China e Argentina (veja quadro). A mesma linha seguiu o cientista político Ronald Inglehart, da Universidade de Michigan, que coordenou um dos maiores estudos sobre a felicidade, denominado The World Values Survey (Avaliação Mundial de Valores). Sua equipe acompanha desde 1981 as mudanças nos níveis de felicidade dos habitantes de mais de 60 países, representando 75% da população mundial. Os resultados de Inglehart estão muito próximos aos de Veenhoven, com os povos de países nórdicos na dianteira da lista dos mais felizes - mais uma vez a Islândia conseguiu o primeiro lugar, com 92% da população satisfeita. Os moradores do Leste Europeu tiveram os piores resultados, particularmente a Moldávia, uma república pouco conhecida da ex-União Soviética, onde apenas 32% das pessoas se dizem contentes com a vida que levam. Curiosamente, destaca o pesquisador, a economia exerce uma influência importante no nível de bem-estar das pessoas. Mas não é primordial. Se fosse assim, países como os Estados Unidos e o Japão estariam nadando em um mar de felicidade. Conclui o psicólogo Ed Diener, professor da Universidade de Illinois: "Apesar de ser importante, por estar relacionada à democracia, à longevidade e aos direitos humanos, a renda, isoladamente, não explica a felicidade. Os fatores culturais fazem muita diferença." Um aumento da renda per capita só influi decisivamente no índice de satisfação da população quando é almejado em lugares pobres. Parece uma confirmação do velho ditado que "dinheiro não traz felicidade", mas de fato é um pouco mais complexo. Na lista de pré-requisitos para a felicidade de Diener, os latinos tomam a dianteira. Segundo ele, são mais felizes porque sempre tentam olhar o lado bom das coisas, ao contrário dos asiáticos, que tendem a supervalorizar as derrotas. Por esse raciocínio, faz sentido que na avaliação de Inglehart, os brasileiros sejam mais felizes que os japoneses. Com o objetivo de mapear quais as dez necessidades psicológicas essenciais à felicidade, o psicólogo Kennon M. Sheldon, da Universidade de Missouri-Columbia, nos Estados Unidos, coordenou três pesquisas com grupos diferentes de estudantes e descobriu que dinheiro, popularidade e influência não são os fatores mais importantes para se sentir bem. Valem mais a autonomia, a competência, os bons relacionamentos e a auto-estima.
Como definir um estado de espírito efêmero, cuja existência é tão breve, que é descrito pelo poeta como "a pluma que o vento vai levando pelo ar"? Há séculos, pensadores, religiosos e escritores inspiraram-se na busca dos segredos da felicidade para desenvolver seus trabalhos e não pareceram importar-se com a mistura de realidade e fantasia que ela pudesse representar. Mas o mesmo não se podia dizer da comunidade científica. Sempre céticos com o que não pode ser provado em laboratório, os cientistas praticamente ignoraram as pesquisas sobre a felicidade até a década de 60. Nessa época, começaram a surgir os primeiros estudos empíricos sobre o tema, impulsionados pela preocupação com o então recém-criado termo "qualidade de vida". Entenda-se como qualidade de vida o conjunto das condições necessárias para que a pessoa se sinta satisfeita com sua existência - o que inclui, além do conforto material, o físico e o mental. Na tentativa de fixá-la, diferentes especialistas da psiquiatria e da psicologia à sociologia, da neurologia à genética passaram a estudar a felicidade. O tema ganhou tal importância que hoje já existe um Arquivo Mundial da Felicidade, uma espécie de biblioteca online com mais de 2 mil estudos produzidos nas últimas décadas. O organizador é o sociólogo holandês Ruut Veenhoven, professor da Universidade Erasmo de Roterdã, autor de vários trabalhos incluídos no arquivo. Em um dos mais curiosos, ele classificou 48 países de acordo com o grau de felicidade de seus habitantes com base em aspectos socioeconômicos e questionários individuais.
Só dinheiro não basta
Nesse ranking, o primeiro colocado foi a Islândia. Seguindo uma complexa fórmula matemática, cada pessoa daquela ilha distante e um tanto fria do Atlântico Norte espera ter 62 anos de felicidade. Os mais pessimistas com a vida são os búlgaros, com apenas 31 anos de vida feliz. O Brasil ficou em 36º, acima da Rússia, China e Argentina (veja quadro). A mesma linha seguiu o cientista político Ronald Inglehart, da Universidade de Michigan, que coordenou um dos maiores estudos sobre a felicidade, denominado The World Values Survey (Avaliação Mundial de Valores). Sua equipe acompanha desde 1981 as mudanças nos níveis de felicidade dos habitantes de mais de 60 países, representando 75% da população mundial. Os resultados de Inglehart estão muito próximos aos de Veenhoven, com os povos de países nórdicos na dianteira da lista dos mais felizes - mais uma vez a Islândia conseguiu o primeiro lugar, com 92% da população satisfeita. Os moradores do Leste Europeu tiveram os piores resultados, particularmente a Moldávia, uma república pouco conhecida da ex-União Soviética, onde apenas 32% das pessoas se dizem contentes com a vida que levam. Curiosamente, destaca o pesquisador, a economia exerce uma influência importante no nível de bem-estar das pessoas. Mas não é primordial. Se fosse assim, países como os Estados Unidos e o Japão estariam nadando em um mar de felicidade. Conclui o psicólogo Ed Diener, professor da Universidade de Illinois: "Apesar de ser importante, por estar relacionada à democracia, à longevidade e aos direitos humanos, a renda, isoladamente, não explica a felicidade. Os fatores culturais fazem muita diferença." Um aumento da renda per capita só influi decisivamente no índice de satisfação da população quando é almejado em lugares pobres. Parece uma confirmação do velho ditado que "dinheiro não traz felicidade", mas de fato é um pouco mais complexo. Na lista de pré-requisitos para a felicidade de Diener, os latinos tomam a dianteira. Segundo ele, são mais felizes porque sempre tentam olhar o lado bom das coisas, ao contrário dos asiáticos, que tendem a supervalorizar as derrotas. Por esse raciocínio, faz sentido que na avaliação de Inglehart, os brasileiros sejam mais felizes que os japoneses. Com o objetivo de mapear quais as dez necessidades psicológicas essenciais à felicidade, o psicólogo Kennon M. Sheldon, da Universidade de Missouri-Columbia, nos Estados Unidos, coordenou três pesquisas com grupos diferentes de estudantes e descobriu que dinheiro, popularidade e influência não são os fatores mais importantes para se sentir bem. Valem mais a autonomia, a competência, os bons relacionamentos e a auto-estima.
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